Pri, Lily e Dudu
Eu e meu irmão:
Como a distância entre nós não é muito grande, só 3 anos, eu não me recordo de ver minha mãe grávida, de desejar aquele irmãozinho, de acariciar a barriga dela, de vê-lo chegar da maternidade.
Quando paro pra me lembrar dele, eu já lembro dele com 3 aninhos e eu com 6. Me lembro que nessa época, eu já achava que mandava nele. Nós morávamos nos fundos de uma loja de material de construção e minha mão tomava conta da loja e da gente ao mesmo tempo. Um olho lá e outro cá. Ela colocava o Dudu no berço e pedia que eu lhe contasse histórias ou o entretesse para que ela pudesse trabalhar um pouco.
Eu o fazia, mas em 2 minutos já estava o Dudu chorando e chamando pela mãe. Mas desde cedo eu já sabia como funcionava a psicologia infantil (cof cof), e o ameaçava deixá-lo sozinho pra sempre….rsrs… tomava posse de minha sacola com meia dúzia de brinquedos baratos e dizia que ele nunca mais me veria se continuasse a chorar. E ele parava. Simples assim. :-)
Quando comecei a frequentar a escolinha a volta pra casa era a melhor parte. Ele sempre me esperava com os braços abertos e a boca alaranjada de tanto comer tijolo. É, minha mãe não podia deixá-lo um minuto que ele corria e pegava um pedaço de tijolo pra comer. Eita coisa boa pra criar anticorpos!
Nos mudamos para uma casa que o pai construiu. Uma casa que durante um tempo era coberta apenas com telhas de zinco. Passamos juntos por um temporal que destelhou a nossa casa (já contei aqui).
Não tínhamos amigos e brincávamos e brigávamos todos os dias. Só eu e ele. Ele brincava de casinha comigo e eu de carrinho com ele. Ele comia das minhas receitas, tipo, amoras amassadas com água e maizena vencida. Minha mãe nunca soube disso. Ainda bem que eu não o matei. Na verdade eu o fortaleci mais um pouco. Ô menino cheio de anticorpos!
Depois do nascimento da caçulinha nos mudamos mais uma vez. Comecei a enfrentar a aborrecência e ele a pré aborrecência. As brigas eram mais frequentes do que as brincadeiras. Não tínhamos muito saco e paciência um com o outro. Mas ainda assim éramos cúmplices. Ele acobertava meus namoros e eu o liberava da louça do almoço.
Anos se passaram. Eu casei e tive meu filho. Meu irmão casou, teve uma filha, descasou e casou de novo. Hoje eu reclamo que ele não me liga, que não me procura com a frequencia que eu desejo, porque sinto saudades dele. Passamos o último final de semana juntos. Ele me pentelhou muito, me passou aquele pé áspero (odeio que me encostem os pés), me irritou, mas eu amei poder estar com ele um pouco mais.
Eu e minha irmã:
Eu já era quase uma “mocinha” quando a mãe engravidou da Pri. Dessa gravidez eu me lembro muito bem. Eu a desejei muito.
No alto dos meus 11 anos eu me sentia um pouco mãe dela. Até porque a mãe precisava de mim pra ajudá-la.
Ela sempre foi muito inteligente, desde muito cedo. Com 4 anos decorou todos os telefones da nossa lista de contatos, era atração onde íamos, por ser eloquente e esperta. Aos 5 anos aprendeu a ler sozinha.
Nessa época eu so queria saber das minhas amigas e de namorado. Tinha alguns conflitos com meu pai, por causa de namoro. Aos 17 anos comecei a namorar firme (com meu marido), comecei a trabalhar fora. Quando dei por mim, no dia do meu casamento, minha irmã já estava com 11 anos, e nem a vi crescer.
Agora era ela que queria conversar com as amigas de escola, viajava na leitura, e estudava incansavelmente. Não me sentia no direito de procurar saber se estava tudo bem com ela, ou se ela tinha algum namoradinho. Acho que não estive presente quando ela tinha muitas coisas a perguntar. Me sentia agora, dispensável. A culpa era minha.
Sempre foi motivo de orgulho, passou pra três faculdades públicas, onde pôde escolher em qual faria o curso de Letras e Literatura. Tudo a ver com ela.
Com a mudança dos nossos pais pra outra cidade, ela veio morar comigo por causa da faculdade. Enfrentamos algumas dificuldades de convivência, mas conseguimos sobreviver. Hoje ela mora sozinha, trabalha, planeja se casar…ela é uma mulher dos novos tempos.
Aquele tempo que eu perdi, onde eu não a vi largar as bonecas, eu não quero perder agora. Quero aplandir cada conquista, torcer pra que cada sonho se concretize, vê-la crescer como profissional, acompanhar os seus avanços culinários (oi?), aguardar ansiosa por um sobrinho, curtir essa gravidez….ser irmã de verdade.
Irmãos a gente não escolhe. Mas eu não troco os meus por nada nesse mundo!