Esses acontecimentos trágicos que atingem o RJ fizeram voltar em mim uma fobia que eu tentava a todo custo manter escondida.
Medo da chuva.
Eu ouço o barulho da chuva, minha carne treme. Eu vejo o noticiário, leio as notícias, é como se eu estivesse envolvida naquilo. Ando uma pilha de nervos.
Quando eu tinha 5 anos, eu e meus pais morávamos com meus avós maternos, me lembro que quando chovia muito minha vó me coloca em pé em cima do sofá. Eu já sabia o que iria acontecer. O esgoto a céu aberto que passava do lado de fora transbordava e entrava pela porta da cozinha e saía pela porta da sala. Minha vó calçava uma galocha, pegava um rodo e ajudava aquela água a passar mais rápido por dentro da casa, evitando que o lixo se acumulasse e que ratos se espalhassem pela casa. Me lembro que eu e meus tios que ainda eram crianças como eu, achava aquilo divertido. Ficávamos contando as latas de óleo que passavam boiando. Minha avó, sempre guerreira, não esmorecia. Nunca a vi derramar uma lágrima. Não tinha noção na época, mas acho que em cada enchente daquelas, ela perdia móveis e um pouco mais da sua saúde que era tão frágil, embora pra gente ela sempre se mostrasse forte.
Me lembro que nos mudamos pra uma casinha nos fundos de uma loja de material de construçao. Pequena e fria. E meu pai decidiu então comprar um terreno pra construir nossa própria casa. Hoje eu vejo no Lar Doce Lar, do Caldeirão do Huck o quão rápido uma casa pode ser levantada e acabada. A nossa obra não acabava nunca! Mas a cada etapa era uma conquista, uma vitória! Até que quando só faltava colocar a laje, decidimos nos mudar. Meu irmão sofria de bronquite e a casa onde estávamos por ser muito fria, só contribuía pras suas crises.
Então, que 5 anos depois do episódio da água passando pela casa da minha avó, que eu achava divertido, eu pude conhecer o lado trágico de um temporal, longe de ser divertido.
Como ainda não tínhamos colocado laje, meu pai fez fez um telhado com telhas de zinco. Amarrou-as e colocou peso sobre elas.
Me lembro que quando chovia, fazia muito barulho dentro de casa, era impossível dormir, nem assistir televisão ou conversar era possível, por conta do barulho ensurdecedor. Só por esses motivos, pra mim, com 10 anos na época, e pro meu irmão, com 7, a chuva era assustadora.
Numa noite em que chovia e ventava muito, me recordo de ver minha mãe preocupada com as goteiras sobre as camas, sobre o fogão, quando de repente uma rajada de vento levou todo o telhado de uma só vez. Me lembro do pânico. Me lembro de estarmos todos encharcados pela chuva. Me lembro que chovia granizo também. Mas o que não sai da minha cabeça é a cena em que entramos pela casa do vizinho, e minha mãe se atirou e com o rosto voltado pro chão chorava de soluçar. Nem sei dizer quais foram os prejuízos materiais daquele dia, mas desde então, dentro de cada um de nós que viveu aquela situação, chuva forte trás más recordações e medo.
Hoje eu e meus irmãos temos cada um a sua casa, vivemos bem, temos conforto e segurança. Meus pais moram numa cidade linda e agradável, numa casa ideal para os dois, segura e confortável.
Hoje, quando chove, nós estamos protegidos da chuva e do vento. Não goteira dentro de casa, e não há umidade nas paredes. Não temos mais crises asmáticas e podemos dormir tranquilos, sem a preocupação de acordar e encontrar os móveis boiando. Mas não deixamos de pensar nos que passam por isso. Estamos solidários aos que enfrentam esse tipo de problema. Estamos tristes pelas vidas que se foram, pelo prejuízo material de muitos, que com suor construíram seu cantinho. Lamentamos o estrago emocional que ficará pra sempre na vida dessas pessoas, passe o tempo que for.
Estamos de luto pela cidade do Rio de Janeiro. Cada carioca, porque não dizer brasileiro, deveria deixar de nesse momento tentar encontrar culpados para o que está acontecendo e fazer o que está ao nosso alcance. Vamos doar roupas usadas, comprar um ou dois pacotes de fraldas, doar uma caixa de leite…vamos amar o próximo como a nós mesmos.
De acordo com as administrações municipais do Rio de Janeiro e de Niterói, há pelo menos 29 pontos de doações nas duas cidades. Segundo o Rio, as necessidades mais urgentes são colchonetes, roupas de cama e banho, material de higiene, fraldas, alimentos não perecíveis, leite em pó e água mineral. A prefeitura da capital afirma ainda que as pessoas que moram em outros Estados podem fazer a doação na Cruz Vermelha mais próxima e pedir para que os donativos sejam encaminhados ao Rio.
Shoppings, supermercados e entidades também ajudam na arrecadação e estão recebendo donativos. O endereço de todos os postos e mais informações podem ser obtidos pelo telefone (21) 3973-3800 ou no site www.rio.rj.gov.br.Veja onde doar:
-Centro Administrativo São Sebastião
Rua Afonso Cavalcanti, 455 - Cidade Nova;
-Cruz Vermelha
Praça Cruz Vermelha, 10 - Centro;
-Centro De Referência Da Assistência Social Germinal Domingues
Rua Ambiré Cavalcanti, 95 - Rio Comprido;
-Quadra do Gres Mangueira
Rua Visconde de Niterói, 1072;
-Centro de Referência Especializado da Assistência Social Maria Lina
Rua São Salvador, 56 - Laranjeiras;
-Centro de Referência Especializado da Assistência Social Arlindo Rodrugues
Rua Desembargador Isidro, 48 - Tijuca;
-Centro de Referência da Assistência Social Rinaldo de Lamare
Avenida Niemeyer, 776 - São Conrado;
-Região Administrativa Jacarezinho
Praça da Concórdia;
-Quadra Escola de Samba Jacarezinho
Avenida Dom Helder Câmara em frente ao nº 2066
Atendimentos: 482 pessoas do Jacarezinho, 30 famílias do Morro do Urubu (Piedade), 40 famílias da Vila União (Manguinhos), 40 famílias da Vila Maracá (Tomáz Coelho);
-4ª Coordenadoria de Assistência Social
Rua da Regeneração 654 - Bonsucesso;
-Centro de Referência da Assistência Social Anilva Dutra Mendes
Posto de Saúde Nagib Farah - Rua Antônio Albuquerque s/nº - Jardim América;
-5ª Coordenadoria de Assistência Social
Rua Capitão Aliatar Martins, 211;
-Centro de Referência Especializado da Assistência Social Professora Márcia Lopes
Rua carvalho de Souza, 274 - Madureira;
-6ª Coordenadoria de Assistência Social (Subprefeitura da Zona Norte)
Rua Luiz Coutinho Cavalcanti, 576 - Guadalupe;
-Coordenadoria de Assistência Social Francisco Sales Mesquita (RA da PAVUNA)
Rua Sargento de Milícias s/nº - Pavuna - ao lado da Delegacia;
-7ª Coordenadoria de Assistência Social
Estrada do Guerenguê, 1630 - Curicica;
-Centro de Referência Especializado de Assistência Social Daniela Peres
Rua Albano, 313 - Praça Seca;
-Creas Adailza Sposati
Rua Professor Carlos Venceslau, 211 - Realengo;
-Centro de Referência da Assistência Social Heloneida Studart
Rua Rangel Pestana, 510 - Bangu;
-9ª Coordenadoria de Assistência Social
Rua José Euzébio s/nº - antiga rua do Rádio - Campo Grande;
-Centro de Referência da Assistência Social Cecília Meireles
Diretor: Devanir. Telefone: 9461-2856 e Ângela - 8684-8444
Rua Olinda Elis, 470 - Rampa 4 - 3º andar - Campo Grande;
-10ª Coordenadoria de Assistência Social
Avenida Brasil s/nº - Santa Cruz (esquina com avenida Padre Guilherme Decaminada);
-Centro de Referência Especializado da Assistência Social Padre Guilherme Decaminada
Rua Lopes Moura, 46 - Santa Cruz;
-Plaza Shopping (Niterói)
Rua Rua Quinze de Novembro, 8 - Niterói;
-Carioca Shopping
Estrada Vicente de Carvalho, 909 - Zona Norte;
-Cadeia de Supermercados Pão de Açúcar (todas as 99 lojas no estado Rio estão recebendo);
-Lamsa (empresa que administra a Linha Amarela)
Na própria Linha Amarela, na central Passe Expresso;
-Escola de Propaganda e Marketing (ESPM)
Rua do Rosário, 90 - Centro;
-Instituto Abel
Rua Mario Alves, 2 e Avenida Roberto da Silveira, 29 - Niterói.
16 comentários:
Mas q história guria!
E a situação, infelizmente, vai piorar...
:(
Emocionante teu relato, Elis! Te ADORO. Bjs
:*
Tks!
Comovente a sua história e totalmente compreensível o fato de vc ter medo da chuva. Moro no Paraná, e aqui já tivemos muitos problemas com enchentes, nada próxima da minha casa, mas tenho familiares em Santa Catarina, que há um ano atrás, teve várias regiões destruídas também. Sempre que posso, faço donativos, se chegam até os necessitados, não sei, mas faço minha parte. Quanto ao Rio, ontem sinceramente perdi o sono vendo o Jornal da Globo. É triste demais e sempre me pergunto pq o Rio é tão castigado com essas coisas. É bem provável que o governo do meu estado faça campanha para arrecadar donativos, e com certeza, participarei. Só podemos pedir a Deus, que dê forças a essas pessoas que perderam tudo, e o que é pior, que perderam familiares.
Me lembro do episódio de Santa Catarina, foi muito triste também.
Pior do que perder a casa e tudo o que construiu numa vida toda, é de fato perder alguém. Isso não tem volta. É muito triste.
:(
Comovente esse relato! É muito triste ver o que está acontecendo no Rio. A unica maneira de ajudar é doando o que cada um puder. O que é pouco pra gente é muito pra quem perdeu tudo.
Isso! Ajude a divulgar os locais pra doação. Obrigada!!!!
Puxa, chorei lendo sua história,não tenho medo de chuva,mas sei o que é uma reforma que não termina nunca,uma asma como consequência e ter que ficar na casa d parentes por dias até a casa ficar habitável e saudável. Parabenizo a sua sensibilidade com toda essa situação. Moro longe e não posso ajudar materialmente infelizmente,mas vc me permite colar os endereços aqui listados no meu bloguinho ainda pouco visitado e divulgar o seu? Acho que é uma fora de ajudar. Fica na paz! ;)
Claro que pode Vivi!!!! Eu agradeço muitíssimo!!!
:-)
Nossa, Elis,que triste sua história. Chorei um monte aqui e torci pra que ninguém entrasse na sala haha
Mesmo não passando por uma situação dessas, entendo bem o que vc quer dizer e também estou de luto e solidária com as pessoas que perderam parentes e bens por causa das chuvas.
Bjs!
Tks, amadinha!!!
:*
Passando para desejar boa noite!
Maravilhosa sexta!
Elis, que post emocionante, esse que vc fez!
Acho que tudo que a gente sofre na vida nos serve de lição para valorizar cada momento que ela nos reserva de melhor...
;)
Postar um comentário